O Nosso Dakar 2017


Nos dias 7 e 8 de Janeiro, a Touratech realizou um evento de off road, baptizado de O Nosso Dakar.

O Desafio

O dia 8 de Janeiro era o dia de descanso do Rally Dakar 2017, e mais uma vez foi o fim de semana escolhido  pela Touratech para iniciarem mais uma aventura em Portugal. Esta iniciativa ligava todos os pilotos de mota portugueses que participavam na é a mais longa e dura prova de todo o terreno, e onde tínhamos vários pilotos portugueses a participar, e com ambições de ganhar. Na noite de sábado tivemos uma ligação por internet ao bivouac do outro lado do atlântico, falando com o piloto HRC Bianchi Prata.

A Touratech voltou a lançar o  desafio a todos os possuidores de motos tipologia trail e amantes do Rally Dakar. No sábado, ligar Alcoutim a Loulé num percurso de 130 kms de dificuldade média/baixa. No domingo teríamos cerca de 140 kms, e que iria acabar no Torrão, com  cantares alentejanos.

A Paixão pela Terra

Nesta altura o nosso grupo ainda não tinha a intensidade de hoje, vivíamos numa fase virtual, onde poucos se conheciam pessoalmente. No início de Novembro, numa volta com a minha esposa ao Alqueva, conheci o Pedro Saragoça e percebi a sua paixão pelo off road. Posteriormente falamos que devia de ser fantástico fazer O Nosso Dakar, mas a nossa experiência não era assim tanta, e eu a última vez que tinha feito off road com uma big trail, tinha sido há 21 anos, numa xrv 750 Africa Twin que tive. A CRF 1000 L nunca tinha sujado os pneus. Para além disso, fazia hemodiálise e era um grande risco, pois não tinha força num braço e ao cair podia comprometer seriamente a minha vida.

Mas a tentação era muita, falei com o Pedro e combinamos rolar sempre os dois e irmos ajustando ritmo um ao outro – inscrição feita. Semanas antes fui ter com ele a Évora e por lá fizemos um mini off road, num dia que o piso estava bem encharcado.

A Aventura

No dia 6 de Janeiro, depois de uma sessão de hemodiálise, rumei a Évora, onde encontrei o Pedro e juntos seguimos para o hotel em Vilamoura. Chegamos já de noite, mas com aquela sensação  de magia no ar. Na entrada do hotel estavam bandeiras do Rally Dakar, várias motos já estacionadas e a marina de Vilamoura estava mesmo ali ao lado.

Quarto atribuído e descemos para jantar no hotel. Enquanto esperávamos íamos falando e ofereceram-nos uma taça de champanhe. Bem, ir para um off road, ficar num hotel de 4 estrelas e receção com champanhe , era realmente outro mundo.

Depois de jantar, era tempo de descarregar os tracks, e  a primeira chatice: o meu gps pifou. Restava o do Pedro. A malta ía chegando, alguns conhecidos como o Valério, e outros amigos de outras motos. Eu e o Pedro estavamos confortavelmente instalados no bar do hotel, onde mantínhamos conversa com uma imperial para mim e muitas para ele. Foi aí que  coloquei em prática aquilo que o grupo é hoje, expliquei-lhe o que pretendia para o futuro e convidei-o a fazer parte da equipa de administradores, convite esse que no sábado fiz também ao Valério, e aí nasceram muitas ideias.

No sábado de manhã tínhamos uma ligação por estrada até Alcoutim e ainda eram uns bons kms. saí cedo com o Pedro, enquanto o Valério recuperava da noitada. Em Alcoutim tínhamos uma tenda com comida e muitas motos, centenas. Fizemos um reforço alimentar e foi dada a  partida: saímos mais atrás na caravana e os primeiros kms para mim eram de terror, algumas poças de água, barro e a minha confiança em baixo. O Pedro não apertou o ritmo, e os kms passavam, com várias quedas de outras motos, mas nós sem problemas.

Passado uns 30 kms e alguns receios superados, o ritmo ía aumentando, sempre a dois. A meio do percurso, numas bombas, encontramos o Valério com um grupo de clientes seus, e decidimos rumar todos juntos. Entramos na serra algarvia, com paisagens únicas e fascinantes, a confiança estava alta, e eu, o Pedro e o Valério deixamos o resto do grupo e aumentamos o ritmo. Era fascinante, os trilhos, as paisagens, que me marcaram, as ribeiras, as descidas e subidas aos vales, incrível. Pelo caminho ajudamos pessoal que pareciam gostar mais do chão do que de rolar.

A confiança era tal que nas lombas as CRF já queriam levantar a frente, as saídas de curva a cavar e apesar do cansaço só queria que aquilo não terminasse. Mas a dada altura lá estava a chegada, a felicidade dos três era notória, esperámos pelo resto do grupo para umas fotos e seguimos para o hotel.

Ao chegar ao quarto tínhamos um mimo da organização com doces regionais e uma carta. Da parte que me lembro, a seguinte frase era realmente uma realidade, “… sabemos que devem de estar cansados, mas temos a certeza que estaram com um enorme sorriso de satisfação…”, Sem dúvida que estávamos maravilhados.

Banho tomado, e descemos para jantar com o Valério, e outros amigos para a seguir assistirmos à ligação via skype  ao Dakar, na américa latina, seguido de historias que o Bernardo Vilar nos contou e mostrou em vídeo e fotos dos dakares que fez. A noite ía longa, e cama connosco.

No domingo saímos em grupo para uma pequena ligação em estrada. A partida era dada dois a dois, na altura o meu par foi o Valério, com o resto da malta entre nós, Os primeiros kms desiludiram em relação ao sábado, mas assim que voltamos à serra para fazer a ligação para o Alentejo as coisas melhoraram muito assim que entrámos no Alentejo. O Valério não rolava connosco, pois tinha parado para falar com um amigo. O grupo ía parando e o Pedro e eu decidimos seguir a dois. O ritmo voltou a aumentar, e foram momentos fantásticos onde mais uma vez íamos passando por vários motards que íam tendo os seus sustos. Na parte final as duas CRF rolavam a ritmos de estrada, um puxava pelo outro mas sempre atentos  às armadilhas.

O Final

No fim, ao passar as bandeiras que assinalavam a meta, eu e o Pedro saltámos das motos, tiramos o capacete e a alegria era imensa, conseguíamos, fantástico, pareciamos dois putos aos abraços, tal era a sensação. Falavamos da parte final com bastante lama e pedras, da velocidade a que vínhamos e de como tínhamos duas motos fantásticas que nos perdoaram a experiencia que não tínhamos e que nos deu sensações únicas. Foi sem dúvida o evento que participei que mais me marcou, excelente organização, excelentes mordomias , excelentes trilhos. Ficou logo decidido, no próximo, voltamos.

De ali seguimos para o almoço, que ficava no Torrão e ainda eram muitos kms. Tínhamos o melhor que o Alentejo tem, comida tradicional, com um grupo de cantos alentejanos.

Muita conversa e o fim do dia aproximava-se, eu segui para casa tal como os outros.

A partir desse dia muita coisa mudou, o grupo passou de um administrador para 4, com o convite também ao Mário, o offroad ficou em nós e começamos a juntar alguns amigos para passeios privados e eventos organizados. A família cresceu e começou uma nova era.